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Mostrando postagens com o rótulo Belo Horizonte

CRAZY HAPPY PEOPLE

Doutor, eu não me engano, O Bolsonaro é miliciano!!!             Se Carnaval não servisse para vilipendiar os déspotas e escrachar os babacas, o que sobraria? Um nariz de palhaço, um baby-doll transparente, uma fanfarra desafinada, algumas cenas circenses, músculos, pulos, glúteos e olhe lá. Felizmente, a massa descarada não está nem aí. Assume a festa de pleno direito e pulmões, quer se soltar, precisa dizer o não dito, extravasar o indizível, preencher o interstício que a festa momesca representa no ritmo da engrenagem moderna de moer carne humana e erigir no lugar um monumento de fúria e vento, desdém e consolo, tudo ao mesmo tempo, a chaga e a penicilina. Quando uma cidade se permite sair à rua e reocupar os espaços reservados às máquinas e ao movimento humano produtivo, dá-se uma verdadeira revolução. Os relógios tornam-se meros ornamentos, o lugar é este e não outro, o tempo é agora ou nunca. Viva a loucura, a l...

ÔNIBUS! BUU!

  (Imagem: pt.coolclips.com)             No Interior, não é fácil encontrar matéria para uma crônica, o que me leva a escrever sobre cães e galos e a inventar causos. Mas, na capital, não faltam motivos, bons ou ruins, dependendo do ponto de vista ou do humor do dia. É no meio das multidões de desvalidos que moem seus sonhos nesta imensa fábrica de injustiças que se sente o verdadeiro peso da vida. Vejamos os prosaicos ônibus, sobre os quais já escrevi mais de uma vez, essas caixas de metal, desconfortáveis de doer, que constituem a base do nosso transporte coletivo e dos quais nossas cidades grandes dependem como um ser vivo depende do oxigênio.               Convém lembrar que os coletivos são caminhões adaptados a partir do design dos carros de bois do velho oeste, com um cubo de aço, duas fileiras de assentos estreitos e duros de PVC de cada lado e tubos ...

É DE MORTE

         Se viver está difícil, imaginem morrer. Nossa história começa com um homem sentado a cavalo sobre uma janela do décimo-quinto andar do edifício Acaiaca. Sem camisa, e com o peito reluzente ao sol da tarde, ele grita frases obtusas, imprecações, clamores, promete se lançar no vazio, ou,   pelo menos, é isso que chega aos ouvidos dos passantes lá embaixo.   Uma pequena multidão acaba se formando nas calçadas de uma das esquinas mais movimentadas do centro de Belo Horizonte. Há quem finja conhecê-lo: “Desça daí, Alfredo, sua mãe vai morrer do coração!” Há quem apele para seus sentimentos cristãos: “Arrependa-se, e confie no perdão divino!” Alfredo, ou seja qual for o seu nome, responde apoiando-se no peitoril da janela com ambas as mãos, como quem está prestes a saltar. Isso provoca uma reviravolta dos curiosos, muitos se afastam com medo de serem esmagados, ouvem-se gritos histéricos, chega a polícia militar, o trânsito é in...

CLUBE DOS AMIGOS DO JOHN

(Imagem da Web)                      O John é um cara popular. Pense em alguém com quatro mil, duzentos e trinta e um amigos no Facebook, que recebe visitas de segunda a domingo, topa farrinhas fora de hora, releva faltas e falsidades - esse é o John. Em contrapartida, os amigos se preocupam com sua vida sexual (ele está visitando a Catarina semanalmente?), com sua vida financeira (só não lhe emprestam dinheiro), com sua saúde (o John espirra e os amigos têm um resfriado).   Acontece que, ultimamente, tem pairado no ar a notícia de que o John pretende se mudar. De novo, mas desta vez para bem longe.             Convocou-se uma festa para debater a grave situação e tomar as medidas cabíveis. Logo agora que ele pretendia fixar-se no interior, ganhar o pão honestamente e economizar para a idade...       ...

PEQUENO GLOSSÁRIO DE PALAVRAS DEFUNTAS OU ESQUECIDAS

  (Imagem da Web)                                          As palavras têm cor, peso e sabor. Têm também suas histórias. Mas, em um universo de milhares de palavrinhas ou palavrões, das preposições aos substantivos, passando pelos advérbios e os verbos pretéritos, não nos damos conta da vida que pulsa por trás de cada uma. Elas surgem e desaparecem, alimentam os livros e as ilusões e dão estofo aos dicionários. Ainda que tivéssemos uma memória organizada como uma planilha excel, un hard disk ou um app, um glossário de impressões afetivas, não bastaria. É preciso ainda inventar e reinventar, como o substantivo “idioteza” que invento agora para designar a mistura de idiotice com esperteza.              Que as palavras vivam como testemunhos de uma época, respirem o ar da atualidade e não se transfo...

EU TOMO ALEGRIA!

(Foto: Estado de Minas) Uns tomam éter, outros cocaína. Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria.       (Manuel Bandeira, Não sei dançar )             Há muito tempo BH não via uma festa assim, há uma geração pelo menos. Tomar as ruas, praças e avenidas, reconvertê-las em espaços de encontro e convivialidade representa uma verdadeira revolução em uma cidade que foi obrigada a conviver com os congestionamentos e a insegurança – e a reclamar deles, como se se tratasse de uma praga irreversível. E eis que, de repente, mas não por acaso, os bhzontinos se descobrem semelhantes e cooperativos ao invés de individualistas e competitivos, e descem às ruas para o carnaval, transformando a cidade em um grande salão de festa para todas as idades.             A popularização do carnaval de rua de Belo Horizonte é uma realidade. Boa organização e inf...

O ALFARRÁBIO

(Imagem: macelginn.com.br)          A cultura anda às traças em nosso país. Meu amigo Jack me contou a história de um amigo dele, professor de faculdade, que se viu desempregado e precisou sacrificar a preciosa biblioteca reunida ao longo de trinta anos. Tirando Bakunin, Paulo Leminski e clássicos da língua portuguesa, contou Jack, todos foram pra fila do bric-à-brac .          “Eu disse a ele que livros usados não têm valor. Ele me levou até a biblioteca e me mostrou uma seleção de obras diversas, ensaios, coletâneas completas, belos livros da José Olympio ilustrados por Poty, livros raros como os de Mendes Fradique e versões originais de Pau Brasil de Oswald de Andrade e Feuilles de Route de Blaise Cendras, lançadas em Paris em 1928. - Vou fazer uma boa grana junto às livrarias da Savassi, afirmou, batendo em meu ombro”.          “Na semana seguinte, quan...

SESSENTA ANOS?

             Envelhecer é horrível, significa regressão física, perda de memória,   sobrepeso, que são aquelas gordurinhas que grudam por baixo da pele e se apossam de corpo como parasitas. Além da proximidade cada vez mais provável da morte, a única desprovida de preconceitos. E pra piorar, a insistência do ser humano em não aprender com as experiências.             Meu amigo põe toda a fé no Viagra:             - A ciência tá do nosso lado. O verdadeiro problema é a pensão do INSS.             É verdade. Com o preço do Viagra a quase trinta por cento do salário mínimo, é melhor esquecer.             Foi com esse espírito que decidimos ir à exposição Kandinsky, no lindo prédio de fachada neoclássica onde fica h...

BACK IN 1985

            No início de 1985, os estudantes João Batista, de Matutina e Alberto, de Montes Claros, atravessaram o portão enferrujado que encerrava precariamente as dependências do MOFUCE – Movimento Fundação Casa do Estudante – no Bairro Santo Agostinho, em Belo Horizonte. Eles tinham como missão investigar as condições do local, que havia sido designado para invasão em reunião do Diretória Central dos Estudantes da UFMG, acontecida na véspera.             O lugar encontrava-se em péssimo estado. Ele servia de ponto de apoio para moradores de rua e afins, que o utilizavam como privada, depósito de bugigangas e motel. Os banheiros dos primeiro andar, únicos concluídos, estavam depredados e o mato tomava conta das áreas externas.              Alguns dias mais tarde, foi efetivada a ocupação do prédio, uma...