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Mostrando postagens de novembro, 2020

COCO COM PIMENTA

  (Traipu, AL, terra de Luiz Vieira, que me contou esta história.) Escreveu não leu o pau comeu, no Nordeste não tem disso não.             Na vila de Escorial, às margens do Rio São Francisco, a vida corria tranquila naqueles idos de 1960. Os únicos eventos extraordinários eram o encalhe de uma barca na rota para Piranhas e as datas do calendário católico, celebradas com pompa e fervor. Dia de São Miguel, Dia de São Pedro (o padroeiro da cidade), Festa de Bom Jesus dos Navegantes. Sobre as águas mansas do grande rio circulavam barcos, cholas (canoas de médio porte, capacidade até 300 sacos), canoas de pescadores e, sobretudo, canoas de toldo ao velho estilo, algumas capazes de transportar até 600 sacos ou 36 toneladas.   A cultura ribeirinha aflorava nos cânticos dos condutores das balsas e nos bailes de coco, com sua mescla de música e dança. Todos se alegravam, inclusive os meninos. De modo gracioso ou perverso, como só os moleques de antigamente sabiam fazer.             Xioli

O INCRÍVEL RÚCULA

              Por alguma razão, toca-me escrever sobre meus amigos, tanto vivos quanto mortos. Na medida em que o tempo passa, o segundo grupo aumenta, e é com tranquilo pesar que vejo em cada um que se vai o lembrete de que minha hora também há de chegar. Enquanto espero, vivo (tranquilamente) todas as horas, escrevo (inevitavelmente), que seja como forma de aumentar minha poupança para a viagem final.             Cada pessoa tem um toque especial que merece ser lembrado, Roberto Soares, um amigo dos anos 90 em Belo Horizonte, tinha uma notável veia satírica e uma atitude udigrude (underground) muito simbólica daquela época. Venho agora a saber do seu passamento e lanço ao vento estas poucas impressões.             Numa tarde de fim de ano, lá pelo ano de 1995, enquanto caminhava pelo campus da UFMG, deparei com um show muito louco, em frente ao prédio das Ciências Humanas. Esses shows eram promovidos pelo DCE, os artistas eram amadores, como aqueles que então ocupavam o calçadã