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Mostrando postagens com o rótulo Vida rural

BRUNA E PENA BRANCA

  Ilustração de Romeu Célio para Vento Sul             Bruna é uma garotinha de 8 anos, pra lá de inteligente e ativa. Amante dos livros e dos animais, ela faz tudo que uma garota da sua idade costuma fazer, como brincar e colecionar dinossauros. Além de cavalgar, paixão que está herdando dos pais.             Nessa hora, todo cuidado é pouco. Crianças não devem montar em cavalos, naturalmente mais rápidos e ariscos, a menos que os mesmos sejam mansos como burros – ou como jumentos. Os pais de Bruna sabem muito bem disso e suas incursões sobre a sela se dão no lombo de uma mulinha pacata e preguiçosa, dessas que andam como quem está dormindo e só arriscam um trote quando sentem os golpes insistentes da taca no traseiro. Galope, nem pensar, isso é coisa para cavalos!             Quanto à leitura, Bruna...

PEDRO DANDÁ

Personagem e autor.               Já escrevi duas vezes sobre Pedro Dandá, a primeira no “Conto dos Homens Simples”, que aparece em meu livro Vento Sul, e a segunda na crônica “A Idade do Homem”, aqui neste blog. Consagrar-lhe um terceiro texto é prova de resiliência e longevidade, tanto de parte do personagem quanto do autor. No espelho virtual em que presente e passado se refletem, surgem imagens contrastantes, deslocamentos, a luz e a sombra se tocam na curva de um ângulo reto, tão diferentes e tão próximas.             Pedrinho teria tido uma certidão de nascimento, como todo mundo. No entanto, quando se decidiu que era tempo de aposentá-lo, foi preciso emitir um segundo registro, com uma idade aproximada. Como nem ele próprio sabe ao certo, perdura a especulação sobre sua verdadeira idade. Ele está acima de setenta anos, sem dúvida, talvez setenta e cinco, al...

LAMPIÃO E LAMPARINA

            Lampião foi o rei do cangaço e também um equipamento de iluminação muito comum no passado, assim como a lamparina, sua prima pobre, companhia imprescindível em todas as casas rurais do Brasil. Quando o lampião a gás chegou, foi um assombro: ele iluminava o equivalente a dez candeeiros ou vinte velas! e mantinha uma casa inteira longe das trevas, sem fantasmas, lobisomens e esqueletos atrás das portas, essas histórias que os adultos contavam para assombrar as crianças.             O lampião tinha várias vantagens, sobretudo a de fazer desaparecer num passe de mágica a fumaça tóxica que emanava dos candeeiros. Para quem vivia naqueles tempos ermos, era uma evolução, embora algumas vozes se levantassem em defesa do antigo método. Gente que sentia saudades das latas de Querosene Jacaré – o melhor -, que eram galvanizadas e muito boas,   serviam para tudo após serem ...

VENTO SUL - A Infância das Histórias

Capa de VENTO SUL, meu primeiro livro impresso     Muitas histórias nascem na infância ou nela se inspiram, pois nada se assemelha mais ao ato de contar histórias do que a imaginação infantil. Tornar possível o impossível, inventar, subverter, mesclar, e assim ocupar a mente e sua fábrica de ideias em algo útil, pois mente ociosa é oficina do diabo. Escrevo para dar sentido às ideias que trocam cotoveladas em minha mente. Mas também pelo prazer que emana da combinação livre das palavras, da possibilidade de fixar uma imagem e assim poder reparti-la indefinidamente, num exercício de liberdade compartilhado com o leitor. Um caprichado projeto editorial deu ao livro beleza e distinção Vento Sul , meu livro de estreia na literatura impressa, é composto de d ezessete histórias que refletem o universo de minha infância, um universo que não existe mais, um mundo simples e pequeno, entre vila e fazenda. Mundo de jogos e descobertas, de experiências diretas co...

ODÔNIO E OZORINO (Conto)

                   - Ê cristão, dá uma ajudinha pro cego?             - Que ajudinha, que nada, velho. Você quer dinheiro pra beber cachaça!             - Pois não é? Com essa chuva e o ceguinho de pé no chão, tem mesmo que esquentar o bucho.             De fato, chovia muito na cidade. Pra falar a verdade, chovia demais. Chovia tanto que as ruas viraram lagoas e intrépidos minadouros borbulhavam no barrado das casas. Improvisou-se até mesmo um transporte de canoas entre os dois lados do comércio, onde antes havia uma ponte, levada pela chuva.             - Chuva assim, só em cinqüenta e nove, ano em que se perdeu toda a safra de feijão.       ...