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Mostrando postagens de junho, 2021

VIDA DE CÃO

              O ente mais feliz desta cidade do interior não é um homem nem uma mulher, mas sim um cachorro. Vira-lata ainda por cima, com genes de banzé e pequinês. Pequeno, decidido, confiante. Não rosna nem late, não amola no trânsito, atravessa (sempre) na faixa, conhece as lixeiras do centro como a palma da pata, dispensa más companhias e trata os humanos como seus semelhantes.             Ao contrário das matilhas que silhonam as ruas noite e dia, o vira-lata é um cão solitário. Tampouco tem dono ou dona, como alguns dos seus irmãos quadrúpedes, que não correm pelos becos, não comem porcaria e não conhecem mais do que a própria varanda ou jardim. Prefere ser dono do próprio focinho.             É sensato e humilde, ainda por cima. Não mede força com os mandões: se está revirando uma latrina e um colega faminto aparece mostrando os dentes, baixa o rabo e (finge que) vai embora. (Quando o intrometido vai embora, volta à labuta com o mesmo zelo de antes.) Possui habilidades e