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Mostrando postagens com o rótulo Minas Gerais

SEU MONTEIRO

                                                          Os motoristas de táxi desta cidade são todos aposentados de outras profissões. João Paulo é ex-bancário, Brás é ex-mecânico e Seu Monteiro foi operador de máquinas em uma usina siderúrgica, demitido em período de vacas magras.   Há mais de vinte anos dedica-se ao volante, profissão que abraçou como uma segunda natureza. Percorre as ruas da cidade onde nasceu várias vezes ao dia, conhece todos os caminhos, sinais e inclinações do sol. Funde-se à paisagem urbana como um auto móvel, está na praça, na estação, na rodoviária.             Além de recolher o passageiro em casa ou no trabalho na hora em que quiser. De manhã cedinho ou tarde da noite. Seu Monteiro é humilde, paciente e prestativo.  ...

KNIFE EDGE

  (Foto: Estado de Minas)             Fim de ano é tempo de confraternização e festas, mas também de viagens e tragédias, numa redundante causa mortis que suscita perguntas aos bem-pensantes. Do tipo: quando é que as pessoas vão perceber que a violência no trânsito é um reflexo direto de sua forma de agir ao volante?             Algo tão óbvio, já cheguei a me debruçar sobre o tema ao fim de mais uma viagem pelas estradas de Minas Gerais na crônica (injustamente) pouco lida que se intitulava sarcasticamente “Morrer!” (aqui neste blog). Tratei com ironia essa busca pelo caminho mais curto para debaixo dos sete palmos de terra de parte de alguns motoristas. Saudei o progresso sinistro que faz alguém enfiar uma moto debaixo de um caminhão e morrer em fração de segundo.             Os suicidas não têm mais descu...

MORRER!

BR 381, trecho Timóteo - Belo Horizonte.              A espécie humana evolui, a cada dia são incorporadas novas conquistas científicas e tecnológicas. Mas não abandona de todo os instintos dos tempos das cavernas ou dos gladiadores. Inteligência e estupidez não são incompatíveis, elas atuam lado a lado, e, quando a segunda predomina, é bomba!, costuma provocar acidentes e mortes nas estradas. Na Grécia Antiga, morria-se aos 25 anos, pois (quase) todos os homens válidos tinham que defender sua cidade e conquistar outras, através da guerra. Hoje a expectativa de vida ultrapassa os 80 anos, a morte demora a chegar. Uma vida assim pode ser longa demais para alguns, é natural que venha o desejo de encurtá-la.             Uma das formas mais eficientes para se morrer subitamente é ao volante de um automóvel.   No trânsito, há aqueles que acham que devem andar mais rápido do que os d...

COGUMELOS AZUIS

                                                                 “Zebu morreu, ele se fudeu, cogumelo é meu!” Ventania             De tempos em tempos, é preciso pingar colírio alucinógeno, usar lentes caleidoscópicas ou tomar cachaça no gargalo. Depois, fugir pras montanhas, quem sabe recuperar um pouco do tribalismo primitivo inerente à espécie. Tem festa no interior, tem lua cheia. Tem bandinhas tocando na frente da igreja desde o meio da tarde. E, quando a noite cai, promissora e fria, tem carreata da santa, sem andor, mas em cima de uma caminhonete. E tem salvas de fogos!              A fogueira é acesa no meio do largo para aquecer o coração de crentes e pagãos, cit...

UM OLHAR SOBRE A CIDADE

  Pico da Ana Moura, Timóteo, MG          A primavera aconteceu este ano, ao contrário dos dois anos anteriores, quando o inverno se transmudou rapidamente em verão. Temos chuvas desde o final de setembro e a natureza tropical está revigorada, exibindo seus melhores tons de verde e amarelo, matizados com florações brancas, roxas, laranjas e vermelhas. Há muita vegetação dentro da cidade, que tem a sorte de estar localizada entre vales, numa região onde a cobertura vegetal deve ser mantida para contrabalançar a poluição produzida pela indústria siderúrgica.          Em Timóteo, há praças, corredores verdes, um lindo parque na montanha (Pico da Ana Moura) e uma mata urbana (o Oikós),  que garantem à cidade uma boa qualidade do ar e uma humidade atmosférica que nunca fica comprometida, mesmo durante os meses mais secos do inverno. A diferença é notória quando se compara a situação do municí...

OUVI NA RUA

            Tá difícil ler os jornais. É tanta notícia cabeluda que dá vontade de gritar como na música de Sérgio Britto: “Pare o mundo que eu quero descer!” Nem o Facebook escapa ileso, agora até o Mark Zuckerberg, seu criador, passou a acessar a rede com a câmera tapada com fita crepe - para não ser vigiado!              Tem hora que é preciso fugir das mídias que tentam nos governar e ir ver a gente em redor, gente comum – oh yeah! Como diria um amigo – como os que cruzam comigo quando atravesso a faixa de pedestres em direção à padaria.             Passo pelo ponto de táxi. Alguém grita para o taxista, escorado no carro:             - Sebastião, não fica olhando para cima, vai cair “reboque” no seu olho!        ...

FRANGO À MATUTINA

                              Nossa balada começou em Belo Horizonte, em um sábado de manhã, munidos de pouca bagagem e muito expectativa, dois casais num Volkswagen gol mal alinhado que entrava nas curvas de banda como um burro queixudo. Nosso destino era Serra do Salitre e, depois, Matutina, na região do Alto Paranaíba, na marquem esquerda do São Francisco. A alegria imperava, ainda que houvesse um certo suspense com relação à ceia de casamento, para a qual eles tinham sido convidados e nós éramos penetras. O Jay, autor da façanha de transformar o convite para dois em um convite para quatro, criava a maior expectativa:   - Elvis é um verdadeiro gentleman – ele elogiava o anfitrião -, vai nos brincar com um banquete! - Um churrasco já basta, respondi, se tiver uísque e cerveja. - E festa também! comentaram as mulheres. - Mas é claro que vai ter tudo isso! – e só coisa boa, assegu...

50 ANOS DE BUDISMO NO VALE DO AÇO, MG

Apresentação do Coral da Divisão Sênior, com regência da professora Íris.             Ipatinga e região viveu neste 22 de agosto de 2015 um dia histórico com a Convenção Cultural em comemoração aos  50 anos da implantação do Budismo de Nitiren Daishonin no Vale do Aço. O evento é tanto mais significativo porque se confunde com a própria história da cidade, pois foi através da siderúrgica Usiminas, criada em outubro de 1962, que os primeiros japoneses se instalaram no que à época era uma vila pertencente ao município vizinho de Coronel Fabriciano, vindos sobretudo dos estados de São Paulo e Paraná. Com os imigrantes vieram os hábitos e a cultura, com destaque para a culinária e artes como a ikebana, o origami e a caligrafia, além da filosofia grandiosa do Budismo.              Muitos tinham se convertido ainda no Japão, outros se converteram após chegarem ao Brasil, graças ao...