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Mostrando postagens com o rótulo Brasil no século XX

1959

                               Entre os números cabalísticos não consta o 59.          Seria ele um número qualquer, como 1016 e 21, desses que se habilitam a saltar de bungee jump ou andar de monociclo na corda bamba, só para sair do ostracismo?          Muitas evidências indicam que não. Cinquenta e nove é um coroa enxuto, com muitas histórias pra contar. Meu pai, que não lia jornais e mal ouvia rádio, tinha uma estranha fixação por esse ano, ao qual reputava tudo de grave e importante que conhecia (ou supunha conhecer). Falava da grande enchente de 59, do fim da guerra (não sei a que guerra ele se referia), da copa de 59 (meu pai era totalmente ignorante em matéria de futebol e só poderia falar abobrinhas a respeito). Mais tarde eu tentei corrigi-lo, afirmando que a copa tinha sido no...

RUÍNAS

        Na canção “Fora de Ordem”, Caetano Veloso diz que, no Brasil, " tudo parece que era ainda construção e já é ruína".   Considero esta definição perfeita   e a incorporei a minha própria visão de nosso país. Agora, vejo que outros compartilham da mesma ideia, a saber, que o Brasil é uma máquina trituradora de coisas e conceitos, que parece estar em constante movimento, embora não saia do lugar.              Há um afã em recuperar o atraso, então faz-se tábua rasa de tudo, a natureza (exuberante só em alguns lugares), os monumentos, os costumes, a culinária, a língua, tudo sofre uma crescente invasão alienígena e se desfaz. Uma palavra do inglês deve ter mais valor do que seu equivalente em português, pois já não nos damos mais ao trabalho de traduzir. Adoramos colocar nossa identidade em cheque, é um debate nacional sem fim, imitamos descaradamente o que outros criam, somos os reis da gentileza e da paródi...

PEQUENO GLOSSÁRIO DE PALAVRAS DEFUNTAS OU ESQUECIDAS

  (Imagem da Web)                                          As palavras têm cor, peso e sabor. Têm também suas histórias. Mas, em um universo de milhares de palavrinhas ou palavrões, das preposições aos substantivos, passando pelos advérbios e os verbos pretéritos, não nos damos conta da vida que pulsa por trás de cada uma. Elas surgem e desaparecem, alimentam os livros e as ilusões e dão estofo aos dicionários. Ainda que tivéssemos uma memória organizada como uma planilha excel, un hard disk ou um app, um glossário de impressões afetivas, não bastaria. É preciso ainda inventar e reinventar, como o substantivo “idioteza” que invento agora para designar a mistura de idiotice com esperteza.              Que as palavras vivam como testemunhos de uma época, respirem o ar da atualidade e não se transfo...

ORIGEM

  (Imagem: itarantimagora.blogspot.com)             Todo mundo nasceu em algum lugar. Eu, por exemplo, nasci em Itarantim, um município do baixo Jequitinhonha, na divisa da Bahia com Minas Gerais. Depois, fui registrado em Salto da Divisa, juntamente com outros dois irmãos, pois meu pai registrava os filhos de três em três. Meus irmãos mais velhos guardam boas lembranças da Fazenda Gameleira, mas eu não tenho qualquer reminiscência de lá.              Não fosse pela certidão de nascimento, eu nem saberia de onde vim. Assim como o povo do Córrego dos Trabalhos, distrito de Ribeirão do Salto, município de Itarantim, estado da Bahia não se dá conta que eu existo.             À cata de minhas origens, fiz uma busca na web: aparece uma cidadezinha ao pé de uma serra de granito, um lugar bucólico, perfeito p...

INDEPENDÊNCIA DE MORTE!

(Imagem: www.memorialculturalunaí.blogspot.com)             Quase véspera do dia 7 de setembro, a fessora Juliana perguntou à turma do 5º ano:             - Por que segunda-feira que vem é feriado?             Juquinha levantou a mão:             - É porque meu pai disse que temos que ir no sítio da vovó fazer um churrasco e eu vou montar a cavalo e ir passear no córrego...             - Buuuuu!   Nerd apelão!             - Gabriel, o que comemoramos em 7 de setembro?             Gabrielzinho ficou no aperto, tinham-se passado duas semanas da prova e ele agora confundia as datas. Arriscou com um fio de voz...

A IDADE DO HOMEM

(Imagem: www.ruralencontro.uol.com.br)             - Que idade você tem, Pedro?             - Não sei, só olhando no Registro.             - Onde está seu Registro?             - Perdi quando estava na fazenda do Seu Olavo.             - Isso faz tempo, não?             - Seis meses.             - Que seis meses que nada: faz seis meses que você se mudou para cá!             Pedro Dandá deve estar caducando, mas não é o que parece. Foi aberto um inquérito para descobrir sua verdadeira idade, que oscila entre os 80 e os 84 anos. Desde que foi perdido o R...