Lampião foi o rei do cangaço e
também um equipamento de iluminação muito comum no passado, assim como a
lamparina, sua prima pobre, companhia imprescindível em todas as casas rurais
do Brasil. Quando o lampião a gás chegou, foi um assombro: ele iluminava o
equivalente a dez candeeiros ou vinte velas! e mantinha uma casa inteira longe
das trevas, sem fantasmas, lobisomens e esqueletos atrás das portas, essas
histórias que os adultos contavam para assombrar as crianças.
O
lampião tinha várias vantagens, sobretudo a de fazer desaparecer num passe de
mágica a fumaça tóxica que emanava dos candeeiros. Para quem vivia naqueles
tempos ermos, era uma evolução, embora algumas vozes se levantassem em defesa
do antigo método. Gente que sentia saudades das latas de Querosene Jacaré – o
melhor -, que eram galvanizadas e muito boas, serviam para tudo após serem tratadas com
fogo de palha.
Uma
lata de 18 litros de querosene pesava aproximadamente 18 quilos e era preciso
ir buscá-la na cidade, em lombo de burro. Passada essa fase de trambolho, era
só utilidade. Seria o alimento das lamparinas, utensílios de flandres formados
por um bojo cônico e um bico afunilado, por onde se passava o pavio.
O
lampião representava um meio bem mais sofisticado, fosse ele na forma de
botijões ou de arandelas. Após séculos de escuridão, a roça ganharia finalmente
luz! Fazia, portanto, todo sentido comparar os disparos da carabina do Compadre
Virgulino aos lampejos do novo milagre tecnológico.
Se o lampião esticou sua vida até os dias atuais, isso se deve às virtudes
do gás, um combustível eficiente e pouco poluente. Quanto à lamparina, ela está morte et enterrée,
morta e enterrada, para o bem de nossas narinas e pulmões. Se me dou ao
trabalho de exumá-la agora, é em nome destas parcas memórias, envolvidas em
odor de querosene e fumaça de pavio queimado.
Não
mais verás a luz bruxuleante! Que, além do mais, era portátil, quem carregava a
lamparina tinha luz própria. A chama soprada pelo vento indicava que era
preciso remontar o pavio. Vultos avermelhados na noite profunda do campo,
silhuetas desenhadas pela luz centrífuga do candeeiro, que só se apagaria se a
lata de querosene Jacaré – o melhor - chegasse ao fim.
©
Abrão Brito
Lacerda
23 03 18
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