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Mostrando postagens com o rótulo Velhinhos

VELHA DEMAIS PARA MORRER!

(Imagem: ozzienews.com)             Os velhinhos andam impossíveis, minha vizinha, a Dona Clotildes, saiu da bengala para a moto e minha avô anda querendo fazer o mesmo. A menos que elas tenham perdido o juízo, isso não é coisa para senhoras de respeito.             O Clube de Mototrilha da Terceira Idade é uma insensatez que filhos e netos deveriam coibir. Vovôs não têm mais reflexos para subir uma trilha escorregadia ou atravessar uma ponte feita de um único tronco de árvore. Mas é isso o que anda acontecendo.             No intuito de demover minha avó dessa ideia tresloucada, fui entrevistar a Dona Clotildes e seu piloto, o Seu Eudésio, outro ancião que não anda batendo bem da bola:             - Por que resolveram aderir ao clube de motocross da terceira idade?             - Fui chamado para um teste drive – respondeu seu Eudésio. - Eu tinha que subir uma rampa pilotando uma moto de 200 cilindradas.             - O senhor já sabia pilotar antes?             -

VÔ & NETINHO

(Imagem: drang.com.br)             Não se trata de uma nova dupla caipira, mas sim dos próprios, os inomináveis, harmonicamente divergentes e radicalmente concordes, deslocados deste mundo como peixes na areia do deserto. No café da manhã, e mesmo antes:             - Filho, café!             - Já vou!             - Por que ligou esse tablet? Vem logo!             Cinco minutos depois:             - Filho, já falei dez vezes! Vem tomar café!             - Dois minutinhos...             - Agora!             E o vô:             - Seu Leimar, o café está pronto!             - Hã?!...             - Café da manhã!             - Tô no banheiro lavando as mãos.             - Isso aí é o vaso!             - Hã?!...             Cinco minutos depois:             - Seu Leimar, vem tomar café!             - Tô esperando.             - Na garagem?             - Hã?!...             Por um feliz acaso, avô, neto e pais se encontram à mesa:         

MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DA BANDA FILARMÔNICA

             Sentado em uma poltrona marrom encardida, seu Alfa assiste a seu programa favorito na TV. Não se trata do “Show da tarde” nem do “Jornal das quatro”, mas sim do “shoptime”, cheio de novidades interessantes, como o multiprocessador Vavita, uma revolução no mundo dos alimentos. O multiprocessador Vavita é prático, fácil de usar e pode ser comprado em trinta vezes no cartão. Seu Alfa ergue as sombrancelhas ao ouvir a oferta anunciada pela garota-propaganda, ou melhor, senhora-propaganda.             Pelas paredes do quarto, diversas lembranças e fotos penduradas. Em uma delas, seu Alfa posa com a equipe de futebol do exército. “Eu era lateral esquerdo”, afirma com uma ponta de orgulho. Na clássica formação de metade de cócoras e a outra metade em pé, ele aparece aprumado e confiante, deve ter sido um bom lateral. Em outra foto, ele perfila com farda e capacete debaixo do braço. “Sou o do meio, na primeira fila”, aponta com um viés de nostalgia. - Era muito difíci

CRÔNICA MAIS VELHA DO QUE EU

Tem gente que não se entrega fácil.                        Não chego a ser um early bird,  um pássaro madrugador, mas estou no trabalho pontualmente às quinze para as oito da manhã. Considero um privilégio rodar por uma rua desimpedida, curtindo o sol leitoso da manhã enquanto os pensamentos vão e vêm, como se tivessem vida própria - entram na mente, ajudam ou avacalham segundo o humor do dia, e depois se mandam em busca de outro hospedeiro. Por isso, é preciso estar alerta e fechar a porta àqueles que não possuem outro propósito que não o de te atanazar. Pensando bem, deveríamos retificar o ditado: ao invés de nos preocuparmos em levantar com o pé direito, seria melhor levantarmos com o pensamento direito.             Seria esse o segredo do Padre Abdala, que me dedicava uma pacífica saudação todo dia às sete e quarenta e cinco em ponto? Eu descia do scooter, retirava o capacete e via o padre caminhar entre a casa paroquial e a igreja. “Bom dia, Padre Abdala!”; “Bom dia!”.

A UTILIDADE DE UM VELHINHO

                    Desculpem, senhoras e senhores, eu realmente não quis dizer velhinho ao pé da letra, uma vez que uma pessoa de sessenta ou setenta anos de idade não é mais velhinha hoje em dia. Ao contrário de tempos atrás, quando ter cinquenta anos significava estar um caco e ultrapassar o limiar dos sessenta era botar um pé na cova. Don Quixote, o personagem decrépito da famosa novela de Cervantes,   era um ancião lunático e caquético aos cinquenta anos. E podemos considerar que estava de bom tamanho se compararmos aos tempos antigos, quando os homens morriam na guerra entre os vinte e os trinta anos e, mesmo as mulheres, que não lutavam de escudo e espada estavam sujeitas a uma morte precoce, de tifo ou de parto. Mas, depois do antibiótico e do viagra, até pessoas de oitenta anos estão bombando e não será grande surpresa se prolongarem a procriação até a terceira idade.          Eu mesmo, no alto dos meus cinquenta e oito anos, sinto-me saindo da adolescência – que j