(Imagem da Web) |
Vivemos num mundo obcecado pela fama,
pela celebrity. Até mesmo quem não leva jeito para a ribalta faz trejeitos de
famoso e diz que mora no Soho. O argumento é de que é no alto e na moleza que
muito se ganha fazendo nada ou muito pouco, conforme o velho ditado: os de cima
bebem água limpa e os de baixo chafurdam na lama.
Na
era da comunicação instantânea, ficou muito fácil ser uma celebrity. Bastam
cinco mil likes, dez mil votos em uma petição para salvar as baleias mink, uma
participação no reality show Big Butt Brazil ou, em último caso, uma ponta de
comediante-ministro no governo Michel Temer. Já tem gente vendendo o pouco que lhes resta, como a virgindade ou a alma, para amealhar um lugarzinho no topo da página
do que antes chamaríamos de pasquim online, mas que agora deve ser denominado
fake celebrities.
Uma
vez conquistado o rótulo de celebrity, poderá participar de comerciais da JBS e
do Banco do Brasil, assinar livros de receita e autoajuda, tipo Como Tornar-se
uma Celebridade sem Sair de Casa, ou mesmo uma autobiografia precoce, narrando a
extraordinária aventura de ficar três dias no topo dos charts.
Contudo,
difícil de doer é mirar essa baixada fluminense do crime bárbaro contra a
sensatez humana e ter a coragem de dizer: ó túnel sem luz, armageddon de
estupidez e vício, vinde pagar minhas contas e salvar meus amigos da
dificuldade!, e continuar de pé como um ipê solitário em meio a uma floresta de
eucaliptos.
A
ordem do dia é não se desesperar, nem mesmo se essa tal de dificuldade andar
rondando sua casa. Protegido da escuridão fundamental de nossa ignorância
diária por uma fina película, jaz um segredo muito bem guardado. Separado por
um ângulo apenas, como a luz e a sombra que se apresentam lado a lado. Ser você
mesmo e ser feliz não custa nada além de conhecimento aplicado. É um desafio
que temos de enfrentar mais cedo ou mais tarde.
Desapegar-se
da ilusão de conforto que é bancar a Maria vai com as outras através da lei do
mínimo esforço possível. O sabor de assumir suas próprias posições é infinitamente
melhor, ainda que isso lhe custe a popularidade. Sem ser contra quem quer que
seja, mas com a recusa firme de não ser apenas mais um drone humano, comandado
pelos very few que elegem os padrões e impõem as aparências e os enganos. Às favas os likes estandardizados, chega uma
hora que é preciso sonhar e partir, somos eternos passageiros, não devemos
carregar muitas coisas, de que devemos ter medo, afinal? Cada lugar haverá de
nos provir do melhor, lancemo-nos na aventura.
Celebre
o fato de ser único e singular. Celebre-te no dia a dia, nas pequenas alegrias
e nas coisas simples, transforme isso em um estado de espírito. Celebre com os
amigos, novos e antigos, sem gastar nada. Já chegou à conclusão de que não mudará
(mesmo) o mundo, nem mesmo sua mulher ou seu amigo. Sofrer também se preciso
for, compartilhar a dor como a alegria, mas, entregar-se, jamais.
Enquanto
isso, na sétima camada do paraíso, uns poucos surfam na crista da onda enquanto
a multidão aplaude. Falam os tontos, falam os tolos e os sábios se calam. Das colunas
sociais e policiais emanam os eflúvios que inspiram as massas combatentes em
busca de um álibi fácil. Celebrity ou celebre-te? Faça sua escolha. Na curva do
futuro tem também muitos acidentes.
©
Abrão Brito Lacerda
11 05 18
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