A
cultura anda às traças em nosso país. Meu amigo Jack me contou a história de um
amigo dele, professor de faculdade, que se viu desempregado e precisou sacrificar a preciosa biblioteca reunida ao longo de trinta anos. Tirando Bakunin, Paulo Leminski
e clássicos da língua portuguesa, contou Jack, todos foram pra fila do bric-à-brac.
“Eu
disse a ele que livros usados não têm valor. Ele me levou até a biblioteca e me
mostrou uma seleção de obras diversas, ensaios, coletâneas completas, belos
livros da José Olympio ilustrados por Poty, livros raros como os de Mendes Fradique
e versões originais de Pau Brasil de Oswald de Andrade e Feuilles de Route de Blaise Cendras, lançadas em Paris em 1928. - Vou
fazer uma boa grana junto às livrarias da Savassi, afirmou, batendo em
meu ombro”.
“Na
semana seguinte, quando o reencontrei, ele não estava tão confiante. Não havia
livrarias na Savassi dispostas a comprar seus livros, apenas alguns sebos do
Edifício Maleta, no centro da cidade - mesmo assim, ninguém tinha ligado pra dar uma olhada na mercadoria”.
“De
tanto insistir, acabou encontrando o Washington livreiro – lembra-se dele? -, que
topou ver os livros, mas não pagou o que ele esperava. E ainda fez onda com
alguns títulos, como O Capital e Interpretação dos Sonhos, alegando que ninguém
mais lê, nem mesmo os militantes do Partido Comunista. Teve também a audácia de
afirmar que os originais de Oswald de Andrade e Blaise Cendras ficariam muito bem em
um museu, mas que não tinha nenhum museu na cidade interessado neles”.
“O
Washington prometeu começar a pagar em quinze dias, que acabaram virando um mês.
Mercado de livros não é como supermercado, disse ele a meu amigo, não tem gente
entrando e saindo a toda hora”.
“Ontem,
meu amigo voltou ao Maleta pra fazer a cobrança. Seus ex-livros estavam expostos,
juntamente com long plays, mapas e
gravuras antigas, em estantes, mesas e até cadeiras que vinham até o corredor”.
“Aquilo
é um parque de diversão para traças! - exclamou meu amigo, decepcionado. - Se soubesse,
tinha colecionado selos.”
©
Abrão Brito Lacerda
04 09 16
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