(Imagem: photoarts.com.br) |
Foi
só a classe média se interessar pelos destinos do país que a direita burguesa,
retrógrada e autoritária e a esquerda operária, autoritária e retrógrada, caíram
em cima, com promessas de casamento e ameaças de deixá-la pra titia.
Agora,
em frente ao castelo da dama cobiçada desfilam os mais estranhos cavaleiros,
com flâmulas e discursos apaixonados, muito parecidos com os que se ouviam no Brasil no início do século XXI.
As
alas vermelhas defendem casas-de-três-cômodos e ticket universidade para os
pobres. As do colarinho branco, prometem distribuição farta de dinheiro público
na forma de bolsa corrupção, cargos com privilégios e contas na Suíça.
A
mídia burguesa golpista, controlada pelo grande capital, desfila como ala
marrom, e a mídia operária antigolpista, controlada
pelo estado, não sai do entorno das muralhas, de olho no espólio da moça,
achando que ela é uma desmiolada e não sabe decidir por conta própria.
Até
a classe dos intelectuais, que não deveria se rebaixar ao papel de Don Juan, perfila
com faixas e paetês, prometendo manter seu ódio sob controle, se essa pequeno-burguesa
insignificante apoiar o aumento de verbas para a formação... de novos
intelectuais.
Sem
falar das facções mais à esquerda e à direita, ávidas por sangue. Como há
poucos doadores, o jeito é encher a cara no bar ao lado do fosso dos crocodilos,
aproveitando que a farra tá no fim e a noiva promete soltar os bichos, pois não aguenta mais tanto assédio. É lá que, entre políticos, peruas, pedaladas e
paparazzi, rola o coquetel das falcatruas.
A
oposição está inflamada:
-
Saindo Dilma, o país ficará nas mãos de homens como Temer, Cunha e Renan!
-
Então, fica Dilma! - clama a multidão de dentro das muralhas.
Os
defensores da situação aproveitam a deixa e acusam os lobos de devorarem uma
inocente:
-
A valente presidenta Dilma deve ficar para terminar sua obra!
-Então,
fora Dilma! – faz-se ouvir o brado.
Os
últimos hambúrgueres de suborno são servidos, foi-se o tempo do champanhe com
caviar; cotoveladas são trocadas à beira das máquinas de distribuição de
dinheiro sujo, mais discursos inflamados:
-
O futuro presidente Temer é homem confiável e bom marido!
-
Uuuhh! Fica Dilma!
No
apagar das luzes, antes que os crocodilos famintos sejam soltos, ainda se ouvem
vozes de apoio e exaltação:
-
O presidente Lula voltará em 2018!
-
Uuuhh! Fora Dilma!
Crocodilos que comem Dilma, comem Temer.
Crocodilos que comem Dilma, comem Temer.
E a culpa é da classe média, que não casa nem
sai da moita.
©
Abrão Brito Lacerda
09 05 16
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