Com projeto de Aleijadinho, a Igreja de São Francisco é uma obra-prima do barroco mineiro. |
Aproveitando o recesso de julho, demos
uma esticada até Tiradentes. Esperávamos encontrar uma cidade mudada, depois
que virou locação de novela, cenário de festival gastronômico e destino de
cinéfilos -quem sabe um lugar culto e refinado.
A
cidadezinha de antigamente não diferia muito de outros lugares do interior de
Minas Gerais e era mais conhecida dos livros de história do que das fotos dos
turistas. No ponto mais baixo, tinha a
pracinha, sempre ocupada por hippies de diferentes plumagens, incluindo os
argentinos, dispostos a enrolar o
freguês com seu portunhol malandro:
-
Se lleva tres pulseras, se paga duas!
As
igrejas, o casario em rosário, as ruas calçadas em estilo pé-de-moleque, estão
hoje melhor preservados do que no passado. Grande parte das casas históricas
foi transformada em pontos comerciais como lojas, restaurantes e ateliers. É a
marcha inevitável do progresso, que rima com turismo e m comércio. O u
contraponto é a transformação do monumento histórico em uma selfie, capturada a
passos de campanha por uma multidão que ocupa as ruas de pedra como um exército
conquistador.
Detalhe do projeto original de Aleijadinho |
Para
os (ricos) turistas do Rio de Janeiro e de São Paulo, o rústico é chique e
vice-versa. As estradas que ligam a cidade às adjacências foram transformadas
em movimentadas vias comerciais, com uma infinidade de lojas de móveis, decoração,
arte e artesanato, seguida de outra infinidade de lojas de móveis, decoração,
arte e artesanato. Deve ser mesmo um negócio da China. A localidade de
Bichinho, a cerca de dez quilômetros de Tiradentes, virou um disputado
shopping center de... móveis, decoração, arte e artesanato, crescendo sem
parar!
E,
o que era para ser a entrada ficou sendo o prato principal. Localizada em um dos pontos mais bem
preservados de São João del-Rey, no lindo largo que leva o nome do santo, sobre um atro imponente,
rodeada de elegante balaustrada e encimada por duas torres gêmeas que lembram
muito as “tours de guet” dos castelos medievais, a Igreja de São Francisco é uma obra-prima. O estilo inconfundível do mestre Aleijadinho
pode ser identificado no relevo do frontispício, cartão de visitas para o que
vem depois. A talha refinada está presente em todos os detalhes: altares,
púlpitos, nichos, teto, janelas, estatuária, testemunho vivo da grandeza dos
artesãos do passado. Como a nave é curva, o conjunto produz um movimento suave
e sensual, sobretudo quando observado de fora e dos jardins
laterais.
Se
hoje milhares de turistas a ignoram em favor do Bichinho ,
tant mieux. Isso nos permite
percorrer sem pressa o interior e os arredores, incluindo o interessante
cemitério localizado ao fundo, como se estivéssemos numa cápsula
do tempo.
Vista a partir do cemitério, ao fundo da igreja. |
©
Abrão Brito Lacerda
31 07 15
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