Palhaços fantasiados de brasileiros fazem uma Palhaçoata no Rio de Janeiro (Foto: revista Anjos do Picadeiro, julho 2014) |
Que falta de respeito, que afronta com a razão
Qualquer um é senhor, qualquer um é ladrão
Qualquer um é senhor, qualquer um é ladrão
(Tango de Enrique Santos Discepolo, 1934)
Como
todo brasileiro, sou obrigado a compartilhar o momento presente com uma
deprimente campanha eleitoral, onde reina o cinismo, o sofisma e a falta de
pudor. Antes tínhamos complexos de vira-latas, na famosa frase de Nelson
Rodrigues. Depois, viramos um Cambalacho, na versão de Raul Seixas para o tango
de Enrique
Discepolo. Hoje, somos o antro da hipocrisia, uma terra onde roubar,
mentir, matar, corromper, ser corrompido, ou seja lá que delito for não
constitui uma falta passível de ser sancionada pela lei. Pela lei, que lei?
Desculpe, foi um ato falho.
Quando
uma autoridade se manifesta, lá vem mentira. Quando a justiça toma a palavra, uma
piada. Quando os jornais escrevem, vaselina. Quando a televisão anuncia,
sensacionalismo. Quando o cidadão fala, ponha-lhe um nariz de palhaço, porque
esse é o disfarce favorito do brasileiro.
Há
dois meses um diplomata israelense chamou o Brasil de anão diplomático. Não
houve reação à altura dos chanceleres brasileiros – teriam vestido a
carapuça? Na copa do mundo, uma derrota
vexatória expôs a incapacidade dos nossos atletas de enfrentarem dignamente uma
situação difícil - foram orientados por gente ultrapassada, sem dignidade.
Breviário
de nossas relações sociais: se for convidado, não responda; se confirmar, não
vá; se for, chegue na hora que quiser. Assuma tudo com a maior cara de pau,
faça descaso do resto. Assim agindo, estará preparado para viver no Brasil.
E
pra te arrasar, a ascensão das novas classes invadiu os espaços públicos e
privados. A música popular, antiga prima-dona da cultura brasileira, está hoje
relegada a um papel de coadjuvante. Você entra numa padaria e tá tocando aquela
música que rima abraço com amasso, e a balconista fica cantarolando no seu
ouvido. Não precisamos de terroristas da Al-Qaeda, temos arma pior!
A república (que é
federativa do Brasil) foi assalta por gente proveniente do operariado e das
classes emergentes, que se misturou com as tradicionais elites e “quadrilhizaram”
o estado. É troca-troca, toma- lá- dá-cá, uma indecência com o dinheiro
público. Parece a Roma de Nero, guardadas as indevidas proporções.
Não
acuso quem busque outros destinos, mas, fiquem sabendo, a coisa tá feia. O visto
americano é difícil de obter, no Uruguai não há lugar para todos, o Japão fica
muito longe e a lua é por enquanto inabitável.
No
país das marionetes, como o sol que se levanta a cada dia, fazer arte pela arte é a única filosofia possível.
Vá ao teatro. Há ótimos
comediantes representando perto de você. Viaje pelo interior. Há artesãos tecendo,
moldando, cozendo o barro, trançando a palha. Prestigie as exposições dos
artistas anônimos que materializam os sentimentos positivos que fazem a vida
valer a pena. Ouça os bons músicos que vivem do próprio trabalho e
sacrificam-se pelo amor ao que fazem.
Leia
os poetas e os cronistas anônimos, visite seus blogs, deixe comentários,
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Na
arca de Noé nos encontraremos todos ao final.
Abrão Brito Lacerda
08 03 18
Amigo, obrigado pela lembrança!
ResponderExcluirChegará um tempo no qual todo o nosso esforço não será em vão. Não digo no sentido pessoal, defender o que acreditamos com honestidade e coragem já se mostra uma grande conquista. Penso num modo mais coletivo, onde educação e cultura sejam metas concretas de todos.
Grande abraço. Força a você também, para que consiga abrir mais caminhos além dos que até aqui já colaborou!