“Croquer la vie à belles dents” é uma
expressão francesa que significa viver intensamente, desfrutar da vida como se
tivesse fome, mordê-la literalmente, com um dose de canibalismo tropical.
Os
dentes são nossa vitrine para o mundo, têm mil e uma funções, inclusive a estética.
Mas custa caro mantê-los brancos e reluzentes, harmônicos como o teclado de um
piano. A maioria de nós tem pequenas imperfeições, coroas, próteses, implantes,
obturações, pontes, roachs, dentaduras e dentes sisos. Antigamente, quando
começavam a doer, eram logo extraídos e ficávamos com uma horrível sensação de
incompletude, tão vasta quanto a vergonha de abrir um sorriso banguela. Mas,
ainda hoje, com recursos suficientes para transformar qualquer draculina em uma
modelo de propaganda, os problemas abundam. Que diria algumas de minhas amigas!
A Margarete quebrou o
dente comendo pão. Fizeram um revestimento bonitinho e ela foi pra festa de
casamento da irmã, com garantias de que “não se soltaria.” E não é que se
soltou?
A
Zanilda estava outro dia estava triste da vida:
-
Que foi, mulher!
-
Umm-umm!...
- Desembucha!
- A “xaqueta”...
- Você quer por uma jaqueta com esse calor?
- Nããã... Meu dent’...
A jaqueta tinha se
soltado e ela viu-se em plena rua tapando a boca com a mão, como se tivesse
acabado de assistir a um discurso do Bolsonaro.
Com um dente novo a dois
mil reais, ela protelou o tratamento o quanto pode e teve de conviver com seu
incisivo soltando-se em fila de banco, chá com as amigas e... banhos de mar...
Pobre Zanilda, e vejam
que tem casos piores.
Tem o truque do corega,
aquele produto para fixar dentaduras (cola tão bem a resina na gengiva que você
tem a impressão de estar comendo os próprios dentes) e base de unhas, segredo
revelado ao pé de ouvido. A Zanilda tentou os dois, e foi assim que resistiu
até poder pagar a conta do dentista.
Caso pior foi o da Svetlana,
moça fina, um chuchuzinho. Dessas que suscitariam uma invasão estrangeira. Ela
é intérprete e vive de boca em boca, devolvendo em russo o que ouve em
português e vice-versa. Da boca da Svetlana jamais poderia cair um dente – mas
caiu.
Não de repente, pois não
era mais dente de leite. Começou com uma cárie mal obturada, dos tempos em que ela
morava em um vilarejo na Sibéria. E aí veio a visita do cônsul.
Um cônsul russo é coisa
rara de se ver, portanto a visita foi hi-per-im-por-tan-te. Lá estava Svet no
meio de uma pergunta, quando – Putin! –o dente soltou-se.
- ?
- !
- Г-жа
проходит хорошо?
“A senhorita está se
sentindo bem?” Os assessores entreolharam-se. Svet “passou “ mal, foi levada ao banheiro,
ficou sozinha e colou o maldito dente – com esmalte, e aqui entrego
definitivamente a Svetlana, pois foi ela quem revelou o truque.
Hoje ela tem um
definitivo perfeito, em harmonia com o resto do rosto.
O dente definitivo é um
divisor de águas na vida de muita gente. Leiam a história de Ivonete, a última
e mais dramática:
Era o aniversário do
filho da Ivonete e ela estava super atarefada. Para piorar, o tratamento de
dente atrasou e ela ficou usando um dente temporário mais tempo do que
desejaria. Resolveu relaxar e até aprendeu como fixar a prótese quando esta
descolava - por exemplo, durante a escovação. Depois ficou ainda mais prática: passou
a retirar o dente ao fazer a higiene.
Os convidados iam começar
a chegar, ela tinha que se apressar. Aí, raios!, o dente caiu dentro da pia.
Zup! Sumiu.
Ivonete entrou em pânico,
e agora, o que ela ia fazer?
O que eu faria, o que
você faria?
Ivonte pegou o celular e
ligou pro marido.
- Meu dente caiu dentro
da pia!
- Fique calma, eu posso
pegar pra você.
- Então, vem logo!
O marido trouxe as
ferramentas, desmontou a mangueira, abriu o sifão e lá estava o molar,
misturado com fios de cabelo e otras cositas más...
Depois de lavado, fervido
e higienizado, voltou pro seu lugar... devidamente colado com goma de mascar!
©
Abrão Brito
Lacerda
06 09 14
Foi bom pra dar uma relaxada, Abrão! Todos temos umas histórias com eles.
ResponderExcluirGrande abraço!