A vida tranquila, o encontro com a natureza. |
Havia
também alemães. Esses, por um explicável(?) pudor germânico, preferiram ficar
em seus apartamentos. Não pareciam muito ligados no jogo, pelo menos antes
desse começar. Depois do apito final, e com a cidade de Diamantina mergulhada
no silêncio, vi-os no lounge trocando mensagens frenéticas com seus patrícios
do outro lado da Internet. Não pude entender o que diziam, porque não sei
alemão. Mas, pelo tom, pela atmosfera fúnebre estampada no rosto dos brazucas e
por meus próprios sentimentos, adivinhei o conteúdo dos seus diálogos:
O paraíso fica na Serra do Espinhaço, região do Pico do Itambé, em Minas Gerais. |
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Você precisa ver! Os brasileiros estão boquiabertos! Parece que caíram de um
avião!
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Sete a um! Por aqui estão dizendo que eles ficaram amarelos de medo!
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Esta é a mais nova versão para a cor da camisa do Brasil. Dizem que vão
trocá-la por uma camisa negra, de luto.
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Tem uma piada circulando que diz que...
Melhor
parar de adivinhar o que diziam os organizados alemães, que deram uma bela
lição de esporte e competitividade aos brasileiros, desorganizados e
pretensiosos. O Brasil achava-se bom acima do que podia responder, construiu-se
uma ilusão, impulsionado pelo mercantilismo e pela mídia, que nadaram em
propagandas ufanistas e enganação. Caiu do cavalo, quebrou a perda, entrou na
Grande Fossa.
Vista da região de São Gonçalo do Rio das Pedras. |
Portanto,
nada melhor do que chegar a Milho Verde, com sua natureza exuberante e seu
astral nas nuvens.
Como
tantos outros lugares paradisíacos, Milho Verde é um aglomerado semi-urbano que
reúne moradores antigos e novos. Os antigos são aqueles que deram a identidade
inicial ao lugar; os novos são citadinos refratários, provenientes de Belo
Horizonte e de outras regiões e até mesmo do exterior. É gente que deu a volta
ao mundo e escolheu finalmente fincar o pé na região do Pico do Itambé, divisor
de águas das bacias dos rios Jequitinhonha, Doce e São Francisco, comumente
conhecida como Alto Jequitinhonha.
Você
chega, conhece o lugarejo em meia-hora e seus moradores ao fio da estadia, pois
a gente, de bem com a vida, faz de tudo o pretexto para um bom papo. Os
arredores, com várias trilhas e cachoeiras, estão bem preservados e não sofrem
com a ação predatória do turismo de massa, embora o número de visitantes seja
elevado. Não há lixo, não há pichação, não há poluição sonora. A índole
pacífica se estende aos animais, como os cachorros, que não latem e nem
perseguem os estranhos. Alguns jumentos pastam em terrenos baldios, tão à
vontade quanto os humanos.
À
noite, uma movimentada vida cultural agita as ruas de terra, na “terrific”
Milho Verde by Night, digna de BH.
Apresentação do grupo Maria Faceira durante o Encontro Cultural de Milho Verde. |
MILHO VERDE BY NIGHT
E
by day também. Pudemos acompanhar o Encontro Cultural de Milho Verde, que
acontece no mês de julho desde 2000, com apresentações de cinema, música e
literatura, além de atividades para as crianças, das quais não participei.
Milho Verde ganhou ares de festival de inverno, reunindo uma plateia dos vinte
ao sessenta anos. Bravo ao grupo Maria Faceira que fez uma linda apresentação reunindo
vozes, percussão, harpa, violão e coreografia. Bravo aos proprietários do Angu
Duro, Café Devassa e Casa do Açaí, que acolheram belos eventos. Na projeção dos curtas-metragens ficou
patente que a “temática social” ainda atrai os alternativos urbanos, que formam
o grosso da população do Milho Verde. Entretanto,
os filmes não interessavam muito, porque o mais importante é o filme real que
está rolando atualmente no vilarejo, o eletrizante:
MILHO VERDE WESTERN
Cobiçada
por suas belezas naturais, a região dos vilarejos de Milho Verde e São Gonçalo
do Rio das Pedras passa por um “boom” imobiliário, com os habituais improvisos
e ações maquiavélicas e contravenções. Afinal, temos que voltar a falar do
Brasil 7 a 1, que continua o mesmo: em meio a uma trama que envolve a
urbanização da região e a pressão crescente dos agentes exógenos, já houve uma
tentativa de homicídio, com dois tiros falhos, seguida de ataques com explosivos,
mais intimidação com tiro de raspão. As autoridades estão investigando, promete
ser uma série com vários capítulos.
Na noite parda, o sorriso maior é o do cronista. |
Qualquer
que seja a decisão dos inquisidores, nada me fará desistir de voltar outras
vezes a Milho Verde. Por sua localização perfeita, em meio à Serra do Espinhaço,
com clima ameno e farta distribuição de nascentes. Pela atmosfera cordial e o alto
astral de seus moradores, capazes de curar-nos da Grande Fossa, que agora se
ampliou com mais uma derrota do Brasil nos gramados.
©
Abrão Brito Lacerda
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