Acho que, salvo um ou dois
defeitos mais graves, a humanidade tem jeito e progride decididamente em
direção a um futuro brilhante de compreensão e tolerância. As únicas guerras a
persistirem no futuro serão por motivos fúteis, como disputas pelas riquezas
dos territórios, divergências políticas e religiosas, ou mesmo a cor da tinta
para se pintar o nariz nos dias de votação do congresso nacional ou julgamento
do STF (Suprema Tolice e Falácia). Haverá também guerras de nervos entre os
partidários de diferentes torcidas, sem esquecer as guerras de audiência que
farão os estúdios de TV parecerem sucursais do zoológico.
Hoje em dia dá no mesmo ser ignorante, sábio, vesgo, sacristão ou senador. Na
fila do Disneyworld somos todos iguais. Tenho uma amiga que adora fazer compras
em Miami, já virou mania: tá deprê, avião pros States, sai de férias, avião
pros States, precisa de uma cortina nova, avião pra Cubatão. Já lhe disse
inúmeras vezes que São Paulo é a mesma coisa que Minas Gerais, com a diferença
do “r”.
Outro
dia, liguei a televisão e deu que em Brasília o STF (Suas Sapiências do Trono
Feudal), tinha efetuado o enterro da justiça brasileira em uma solenidade
solene. Os ma-gis-tra-dos, de toga, cetro, espada, bíblia e outros aparatos
cômicos, declararam que “é ridículo o ponto a que chegamos. Esta corte, do alto
de sua pompa, se autodissolve e doa suas dependências à creche Casinha de
Bonecas".
Desliguei a TV e subi no muro, porque a conversa das vizinhas
parecia bem mais interessante. Vejam o que ouvi das linguarudas:
- Meu primo Itamar Motta decidiu se casar com uma portuguesa.
- Não diga! E quem é a noiva?
- Uma tal de Paula Tejano.
- É como diz o ditado, “jacaré no seco anda, tatu no seco mora”.
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Desci do muro, porque também estou
acostumado a esse tipo de linguagem. Pensei em uma forma desesperada de
encerrar a crônica e me veio a ideia do no vote. Ninguém
votaria por um período de dez anos pra ver no que dava. Não me deram ouvidos. Pensei
em beber, quebrar vidraças ou sair com as sirigaitas. Mas meu fígado, a polícia
e minha mulher não concordariam com isso. A única solução foi: correr!
Saí correndo o mais que pude, corri mais do que as minhas próprias pernas,
corri descalço, corri de calças, corri mais do que a economia, a bancada
evangélica e a Lava Jato juntas!
Deu certo. Quando dobrei a esquina, estavam todos correndo, os
escoteiros-mirins, a torcida uniformizada da associação dos aposentados, o
homem de ferro, as babás com seus carrinhos, Tom e Jerry, a nova miss Brasil,
repórteres de TV e cameramans, fiscais da receita, assaltantes e vítimas, a minha dentista, doutora Letícia.
- Doutora Letícia, o que a senhora está fazendo aqui?
- Estamos indo pra Brasília. Vamos fazer levitar o STF (Suprema Tolice e
Futilidade), o Congresso e o Palácio do Jaburu.
Então, leitor, levante dessa cadeira e
corra! Os hippies não conseguiram fazer levitar o Pentágono, mas nós faremos
voar pelos ares a Esplanda dos Ministérios. Não sobrará pedra sobre pedra no
planalto central.
Yes, we can!
©
Abrão Brito Lacerda
01 03 18
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