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PEQUENO GLOSSÁRIO DA PRÉ-ADOLESCÊNCIA

(Imagem: youtube)

            Os púberes estão aí, achando que são gente. Como pintos saindo do poleiro doméstico para arriscar os primeiros passos independentes pelo quintal em torno, eles se expressam através de uma linguagem matizada que combina a imaginação da infância com a percepção lógica nascente para emitir proto-opiniões. Eles não querem mais apenas comer, dormir, brincar e fazer tarefas escolares, querem ter posicionamentos.  Hoje seu vocabulário é determinado fortemente pelos conteúdos online, pelos jogos favoritos e pelos youtubers que seguem, eventualmente algum blog. A partir daí eles buscam fazer a ponte com suas experiências de debutantes na interpretação do mundo.

BAGULHO: É qualquer coisa, troço ou trem.
APELÃO: Ser apelão é ser um pé no saco, chato, difícil de suportar. Quando o adversário é apelão, você tem que fazer de tudo para detoná-lo.
SKIN: Um recurso de alguns jogos online, baseado na customização da roupa do personagem (a skin). Tem skin de armamento, de proteção térmica (para encarar as duras temperaturas de alguns exo-planetas, que podem chegar a - 200 graus). Quando os pré-ados param de falar dessa infantilidade, é porque já cresceram e mudaram de fase.
SHING-LING: O mesmo que chinês. O termo é usado geralmente com a conotação de cópia barata, de qualidade duvidosa. Até no mundo dos games os shing-lings estão avançando de forma irresistível.
NIPON: Japa é coisa do passado. Japonês agora é nipon. Ao contrário dos shing-lings, os nipons têm reputação alta. Mas têm também a fama de bizarros, às vezes extravagantes e engraçados.
PAY TO WIN: Um jogo pra lá de capitalista, no qual você tem que investir dinheiro para ganhar força e poder para vencer. Grana de verdade, a dos pais, nada de moedinha virtual.
COUNTER STRIKE: Outro jogo. Mas, ao contrário do Pay to Win, ele põe em evidência a habilidade do jogador.
MANO: A gíria paulistana que invadiu as conversas dos que estão crescendo. Deve ser por causa da proeminência dos youtubers daquela cidade, cheia de nipons e shing-lings.
TACAR: O verbo de ação favorito dos meninos. Tacar fogo, porrada, gases exterminadores, tacar...
TOP TEN: Todas as faixas de games têm sua lista de top tens, que deveriam, como o nome sugere, ser os melhores, mais excitantes ou mesmo os mais caros. No entanto, elas estão longe de representar consenso, no geral cada youtuber organiza sua lista, democrática ou controversamente, esse é o ponto: não concorda, crie sua lista também.
EXPANDIR: Objetivo primordial dos jogos, quem não se multiplica, se trumbica. Como micróbios cerebrais, os bugs multiplicadores tomaram conta das novas gerações, algo que só tem comparação com o item a seguir, que é:
CONQUISTAR: A ambição é uma característica humana demasiadamente útil nesses tempos ultracapitalistas para ser relegada aos adultos e ao universo das grandes corporações. Os meninos também querem.
BUG: Se você ainda não sabe o que é bug, deve se habilitar para exílio em Marte, supondo que lá não haja ETs ainda mais avançados do que nós. Bug significa problema, defeito, sobretudo um bem enquizilado e difícil de resolver. Dele deriva o verbo a seguir:
BUGAR: Saiu do mundo dos videojogos para a prateleira do demente social médio. O Brasil, por exemplo, anda bugado. Antes dizíamos que eram carunchos, mas isso lembra os tempos da economia rural. Caruncho come feijão, bug come software e ambos comem o Brasil.
YOUTUBER: Oh, yeah! Este é o que você já sabe. Todo pré-ado e ado tem os seus top ten youtubers favoritos. Muitos começam no anonimato, com um equipamento caseiro, depois evoluem para telões 50”, vale mesmo é a habilidade de conquistar likes e se multiplicar e atrair anunciantes e patrocinadores.
FPS: Frames per second, frames por segundo, é a velocidade com que um game roda em seu processador e é correlato com o prazer de jogar. São eles que determinam aquele aspecto alucinante dos games, com cores e mais cores explodindo na tela.
NÃÃO!: Uma das palavras mais repetidas. Vamos fazer a tarefa? Nãão! Tá na hora de comer. Nãão! Tomar banho.  Nãão! Faça alguma coisa além de jogar, nãão!, até que a mãe (ou o pai) perca a paciência.
TRIPLE A: Jogos ocidentais de grande orçamento. Fascinam a garotada, mesmo que não passem de uns bagulhos.

©
Abrão Brito Lacerda
14 04 18


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