O
John é um cara popular. Pense em alguém com quatro mil, duzentos e trinta e um
amigos no Facebook, que recebe visitas de segunda a domingo, topa farrinhas fora
de hora, releva faltas e falsidades - esse é o John. Em contrapartida, os
amigos se preocupam com sua vida sexual (ele está visitando a Catarina semanalmente?),
com sua vida financeira (só não lhe emprestam dinheiro), com sua saúde (o John
espirra e os amigos têm um resfriado).
Acontece que, ultimamente, tem pairado no ar a notícia de que o John
pretende se mudar. De novo, mas desta vez para bem longe.
Convocou-se
uma festa para debater a grave situação e tomar as medidas cabíveis. Logo agora
que ele pretendia fixar-se no interior, ganhar o pão honestamente e economizar
para a idade...
“O
assunto também me diz respeito”, disse John, “apesar de vocês pensarem o
contrário. Na verdade, tenho duas alternativas: a primeira é me mudar para o
centro e abrir minha própria sala, a segunda é dar aulas em uma faculdade no
interior de Goiás.”
Os
amigos propuseram:
“Podemos
procurar uma quitinete no edifício Maleta... ou, quem sabe, em local mais nobre, como o bairro
de Lourdes... um apezinho tipo single, com ônibus em frente?”
“Ainda
prefiro o interior de Goiás”, disse John com firmeza. “Posso assinar contrato
na semana que vem.”
Os
amigos decidiram passar aquela história a limpo. Compreendiam a decisão, embora
desconfiassem do motivo. Qual foi a surpresa quando descobriram que o álibi tinha
nome, profissão e apelido: tratava-se de Louise, poetisa do interior de Goiás, também
conhecida como Psycho Killer. O affaire entre os dois durava mais de ano,
através de postagens tipo poèmes d’amour fou e contos eróticos em text.
Marcaram uma festa para desmascarar o que lhes parecia
falta de lealdade do amigo. Só que, dessa vez, o John tinha mudado de ideia,
mais uma vez...
“Um ap. no Maleta ou, quem sabe, no bairro de Lurdes,
tem seu preço”, disse John. “E, sem a faculdade, não tenho como me bancar. Acho
que seria justo ratear o valor do aluguel entre meus amigos queridos, em parcelas
módicas, para não pesar no bolso de cada um. Prometo restituir com juros e correções
assim que puder.”
Diante
da surpresa, acrescentou:
“Do
contrário, terei que me mudar para o interior de Goiás.”
Os
amigos continuaram em silêncio, se perguntando “aonde o John quer chegar?
“Pensei
em tudo”, prosseguiu John. “Vamos sortear por ordem alfabética a contribuição
de cada um de vocês. Basta dar um passo à frente, pegar uma ficha nesta caixa”
– John aponta para a caixa, estrategicamente colocada sobre uma mesa – e segurá-la
para a foto...”
Só
uma mão se levantou. Foi o Vicente, que alegou não ter entendido bem.
Será
o fim do Clube dos Amigos do John?
©
Abrão Brito Lacerda
26/04/17
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