There’s no stopping the cretins from
hopping, não há mesmo, nem que o vinil fure de tanto tocar aquele rock dos
Ramones. Esses debilóides vão pular a noite inteira. A OPEP e o petróleo, a
guerra do Vietnam e a ditadura, a caça às bruxas, os proletários e os
intelectuais se radicalizando, os jornais falando de pós-Napalm e AI-5,
explosões e fugas, você só ficará sabendo dias ou semanas depois. E, fais gaffe, meu amigo, os cretinos estão
espreitando por toda parte pra te dedurar.
O que pode um pobre rapaz fazer? Aprender a viver com pouquíssimo, um par de
jeans, t-shirt, tênis, mais uma jaqueta de couro pra quem mora no frio de Nova
Iorque. O mundo é gris e melancólico, meio hippie, meio anti qualquer coisa,
buzu, metrô e longas, longuíssimas jornadas a pé, se cruzar com milicos no
caminho, não os encare pra não levar cana. Take a walk in the wild side. Se em
Nova Iorque, vá ao Country, Bluegrass and Blues Club, lá as coisas estão
rolando, sementes de punk e new wave, dois rótulos que renderão fortunas e
mortes trágicas nos anos seguintes.
E foi assim que uma geração inteira atingiu o ponto “G” entre os anos 70 e 80, essa
década mágica, mistura de 7 e 8, noves fora nada, com os nos 60 e a cabeça no
futuro.
Os punks eram os novos mods, mas não eram engomadinhos como seus primos dândis,
eram dirty boys & girls. Eram “duros” também e viviam de boca livre, aquela
rebeldia não passava de faire semblant, faz de contas. O deboche trash nasceu
com um anti-desfile de moda e os rejeitados outisiders não passavam de
manequins mal pagos. Mas as garotas de botas de caserna, meias quadriculadas e
hot pants cravejadas de metais + piercings & tatuagens pareciam saídas de
um sonho erótico. E a música insinuante e rapidíssima fornecia a trilha
sonora perfeita para os cretinos sem causa. Não dava mesmo pra parar de
pular...
Se você é um dinossauro e sente falta daqueles tempos, saiba que estão
mortos e enterrados. Hoje em dia só há lugar para os cretinos cretinos, os que
dão com os burros n’água por atavismo ou entropia cultural: propensão ao
erro e à corrupção, manifestação de algum gen recessivo que se despertou,
cresceu e se multiplicou, jogando todos na vala comum da estupidez. Seja cara
ou caricatura, burrice ou contra-burrice, fala ou desmentido, a pós-verdade
inaugurou a era do populismo cretino, que não conhece direita ou esquerda e
promove falsas revoluções por minuto.
Agora o petróleo é nosso, a Amazônia também, assim como o Pantanal, os mangues,
os lixões, as favelas, os mortos por bala perdida, os não-obstante vivos, os
vivaldinos e os rios contaminados por mercúrio. Hoje à noite, como todas as
noites, vai passar ao vivo na tv a vergonha nacional, corra antes que o renhido
embate entre a direita e a esquerda te lance algumas tortas de idiotice na
cara. Em outros lugares, Beirute e Mossul, passam-se coisas bem piores, basta
abrir caminho em meio à multidão de cretinos com sua armadura de aço, plástico
e silício.
Nada mais se perde, tudo se transforma. Rufam os tambores, farfalham as
trombetas, movem-se os dedos: do nada surgem profetas da alma alheia, livro à
mão (para disfarçar uma possível estupidez), lábios debochados de cuja
comissura escapam os dez pecados capitais de nossa época: não furtarás à vista
do dono, não fornicarás com nenhuma mulher contra a vontade dela, não
abandonarás pai e mãe sem antes avisar o SUS, não levantarás de mal humor na
segunda-feira, não te dobrarás diante do delegado ou juiz, guardarás jejum de
ácido e anfetaminas, não comerás carne, presunto ou salsicha da Sadia, Perdigão
e Seara, respeitarás a pausa etílica ou equivalente cinco vezes por semana,
darás ao pobre em dólar e euro, não confiarás em nenhuma história sem antes ler
os “fatos alternativos”.
Definitivamente, ser cretino não tem mais graça nenhuma.
©
Abrão Brito
Lacerda
25 03 17
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