Campos da UFV, Universidade Federal de Viçosa |
Schiller dizia que o poeta é “o
vingador da natureza”, no sentido de que resgata no homem sua natureza e
unidade originais. Isto no final do século XVIII, quando a máquina a vapor era
uma promessa tecnológica semelhante ao foguete espacial brasileiro.
E o poema é o recriador desta unidade, perfeição ou ideal – o que é
idéia minha e não de Schiller. Todo poema que se preze deve ser recriador e
definitivo.
O
Bandeira, que, aliás, se considerava um “poeta menor”, escreveu que era muito
mais um apreciador de poemas do que de poetas, porque “há poemas perfeitos, mas
não há poetas perfeitos”.
AO
JARDINEIRO
Nascendo do
meu pranto, o verso derradeiro,
Vem abraçar
teu riso e agradecer-te as flores,
E devolver
perfume ao doce jardineiro,
Que, um dia,
em meu caminho, andou plantando amores.
Plantaste
riso e canto e sonhos e ternura.
Tão doce, a
tua mão, reconduziu-me à vida.
Depois, o
teu silêncio e, nele, uma amargura:
Quiseste o
“bugari”, mataste a “margarida”.
Mas, nunca,
as tuas mãos, sementes de pecado
Jogaram
neste chão, talvez que, de cansado,
Deixou
morrer o “lírio”, a felicidade.
Por isto, os
versos meus entrego-te, contentes,
As flores
que se abriram, hoje, de repente,
Sem que
ninguém plantasse. Aceita. São “saudades”.
Este saiu na
coletânea “Por Trás de Cada Poema...”, edição da UFV, com o método sucessor do
mimeógrafo. Lê-lo é um prazer súbito, sedutor, redobrado. Tem perfume, cor e
música – é pura poesia.
(Na citada coletânea, aliás, foram publicados também
poemas do autor deste blog, mas a prudência o fez guardá-los de olhos curiosos,
na esperança que durmam para sempre no leito daquelas páginas.)
Gritar
“abaixo a ditadura!” fazia sentido naquela época. A mística da revolta e da
luta pela liberdade, construída ao longo dos anos 60 e 70 ainda estava no ar.
Vejam “O Último Poema” de Vicente Faria, estudante de Agronomia, em coletânea
do autor:
Ei! Poeta
pra que esses versos?
São tênue
matéria
São restos
de risos
São choro
contido
São força
vencida
São tempo
passado
Não venda
sonhos, poeta!
São
supérfluos
São caros
demais.
Vê o mundo!
O tempo é outro
É tempo de
luta
de querer
com medida
de emoção
contida.
Vê o mundo,
poeta! É tempo de luta.
Vamos,
rasgue a rima e solte o verso
Quebre a
pena empunhe a arma.
Vai.
Vicente, poeta armado.
Caminha pelo
deserto da tua pregação
e na areia
do tempo inconstante
escreve
o teu último poema.
Um
tanto fora de tom para os dias de hoje, quando sonhos são comercial de
margarina, o poema de Vicente repercute a influência de Ferreira Gullar (quem
não leu o Poema Sujo, vá fazê-lo e volte para continuar este texto) e tem algo
de “Pra não dizer que não falei das flores” de Vandré.
Mas
tem sobretudo sua essência de “antena da raça”, na expressão de Ezra Pound,
pois traduz com perfeição aqueles tempos heróicos.
Ω
Abrão Brito
Lacerda
Amigos, retifiquei minhas configurações para os Comentários. Espero que não haja problemas agora para deixarem suas observações. Obrigado.
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