(Imagem: www.programacombate.com) |
Ao
fazer uma vistoria na caldeiraria abandonada em frente, descobri vasos
sanitários abertos e larvas de Aedes Aegypti nadando como peixinhos, além de um
imenso tanque subterrâneo, transformado em balneário para mosquitos depois das
últimas chuvas. Enquanto os insetos adultos disputam um espacinho à tona, dá
para ver as larvinhas surfando de cabeça para baixo, como se estivessem na
praia de Guarapari. Não será surpresa se essa pouca vergonha toda tiver sido
financiada pelo BNDES!
O
jeito foi telefonar para a Vigilância Sanitária:
-
Alô!, é da Vigilância Sanitária?
-
Não, é da Secretaria de Saúde. Em que posso ajudá-lo?
-
É aí que fica a Vigilância Sanitária?
-
Não...
-
E onde é?
-
Não existe mais Vigilância Sanitária, agora é “Saúde da Comunidade”.
-
E onde fica?
-
Aqui mesmo. O que deseja?
-
Tem um foco de Aedes Aegypti na minha rua, Rua 92, bairro Novo Horizonte, fica
numa antiga caldeiraria.
-
Um momento, por favor!
Deu
para ouvir a risadinha da atendente mocando de mim, como se eu fosse o único
morador da cidade que não sabe que agora existem focos do mosquitinho listrado
por toda parte!
Após se recuperar da
crise de riso, ela me disse:
-
Vou passar sua ligação para a “Saúde da Comunidade”.
Repeti
a conversa:
-
... foco enorme de Aedes Aegypti em minha rua, fica numa caldeiraria
abandonada.
-
Rua 92, Novo Horizonte? – interrompeu-me a voz. - REALMENTE, aqui no boletim da
nossa administração “Trabalhando por Timóteo” consta que há um foco em sua rua,
já FORAM tomadas providências. O senhor não precisa se preocupar.
-
Minha senhora, mosquitos não sabem ler. Onde está o fumacê que passava todo dia
à tarde?
-
Um momento, por favor!
Mais
uma que se riu da minha inocência, como se eu fosse o único a não saber que a fumigação
das ruas para combater o mosquito foi abandonada há mais de uma década.
Depois
de algum tempo, ela tossiu e respondeu:
-
Não foi possível renovar o convênio com o prestador do serviço.
-
Então, cadê os agentes que passavam de porta em porta?
-
Por contenção de despesas, tivemos que despedir o pessoal.
-
Então, que PROVIDÊNCIAS foram tomadas, minha senhora?
-
Um momento, vou passar sua ligação para a secretária do Secretário da Saúde...
Desliguei
o telefone.
A crônica das epidemias transmitidas
pelo Aedes Aegypti tem dias férteis por aqui. Dengue e zika tornaram-se males
recorrentes na comunidade, fala-se deles como se fossem membros da família. Até
meninas já estão sendo batizadas com o nome de Zica e antigas expressões da
vida quotidiana mudaram para se adaptar aos novos tempos, como na fala desta
mãe:
-
Deixe de DENGUE e vá fazer a tarefa!
E,
apesar de sua aparência democrática, que não poupa pobres e remediados, brancos
e amarelos, essas enfermidades reproduzem os costumes dos diversos extratos
sociais. Minha vizinha metida, por exemplo, teve a cachimônia de dizer:
-
Peguei zika em Orlando!
-
Mas lá (ainda) não tem mosquito da zika!
-
Foi por via sexual!
Fiquei
indignado, como alguém pode ir dar, isto é, contrair o vírus da zika tão longe, sendo que
o Brasil é campeão mundial da dengue, da zika e, em breve, também do CHIKUNGUNYA?
A
grã-fina não se fez de rogada:
- Esquenta não! Os EUA estão desenvolvendo a vacina; logo, logo eles serão os campeões da zika,
da dengue e de tudo o mais; vão nos vender remédios a peso de ouro, criarão até
mesmo o troféu Aedes Aegypti, que ficará bem mais in sendo pronunciado com sotaque cowboy.
Como
resistiremos aos ianques? Eles nos retiram as poucas coisinhas que nos dão orgulho. São capazes os famigerados de nos curar dessas mazelas - e depois vão
querer um pedaço da AMAZÔNIA!
©
Abrão Brito Lacerda
27 02 16
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