Plasmatics com Andy O. Williams, a comandante geral do caos ou pandemônio organizado. (Foto: youtube.com) |
Quando o cabelo e o entusiasmo
começam a ceder à lei da gravidade, é comum lembrar-se dos bons tempos que se foram,
à luz dos quais os dias atuais parecem bregas e chochos. Até na política já andam falando de bons
tempos – saudades de Collor ou de FHC? - na arte e na música, nem se fala,
depois que o mau gosto criou raízes, a pandemia do atraso bate à nossa porta
como um tsunami.
São
programinhas de tevê com dançarinas bombadas e cantores de meia-tigela. A caretice
anda demais, meu amigo Astrildo, sobrevivente de épocas selvagens e hoje
consultor de assuntos mundanos, declara:
-
O que leva moças de família a treparem no varal desses boçais de três notas?
-
Você pode ser preso e deportado por misoginia!
-
Tem razão, vou vestir calças vermelhas e cortar os cabelos de cherokee, como
nos velhos tempos.
Perdoem
o Astrildo. Ele cresceu com um pé no movimento hippie, leu os livros da geração
beat e fumou quilos de haxixe. Ouviu os Ramones cantarem “Sheena is a punk
rocker” quando Jesus Cristo ainda usava calças curtas. E surfou na rave sem fim
dos anos 80.
Só
os oxímoros para aproximarem as discrepâncias dessa época politicamente correta
e socialmente desinfecta. Porque sobreviver aos tempos é uma doce ironia, que
não poupa sequer aqueles que veem no passado a salvação do presente, sem se dar
conta de que o passado não salvou sequer a si mesmo.
Depois
que morreu Cazuza, viva Cazuza! Seus heróis morreram de overdose, seus inimigos
estão no poder e brindando sobre sua cova rasa. Também já morreram Raul Seixas,
Jimi Hendrix, Tommy, Dee Dee, Joey e Andy O. Williams. Um viva para todos,
nenhum micróbio tocará seus cadáveres enquanto a indústria de vender mitos não
aplacar sua sede.
Quando
o punk surgiu em meados dos anos 70, o objetivo era resgatar o espírito do
velho rock and roll e mandar pelos ares o rock-negócio. Depois vieram bandas
como Dead Kennedys, Sex Pistols e Plasmatics, da comandante geral do caos ou
pandemônio organizado, Andy O. Williams. Andy suicidou-se em 1998, quando sua
música já tinha ganhado o gosto do isopor, os demais estão vivos, vivaldos e
vivaldinos.
Os
Dead Kennedys se separam para melhor dividir o botim na velhice. Joe Biafra, ex-crooner
e letrista, sacode agora a pança em palcos ao redor do mundo, imitando seus
trejeitos de juventude. Os outros membros da banda contrataram outro vocalista,
que por sua vez imita o próprio Biafra. E quem vê os “revolucionários” Sex
Pistols hoje, vestidos como palhaços de um circo de segunda classe, repetindo
as canções do único álbum que lançaram nos idos de 1977, tem a impressão de
estar assistindo a uma farsa.
Na
onda do “revival” de qualquer coisa, quando a criatividade tá magra e a grana
fácil, nada melhor do que reciclar os antigos rebeldes e transformá-los em
carneirinhos. Então, diga aí, Astrildo, você que come arroz integral e arrota
pimenta, onde posso encontrar um par de calças vermelhas?
-
Morte aos vivos e viva os mortos!
É
o único jeito de ser moderno, diferente e eterno.
©
Abrão Brito
Lacerda
10 07 15
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