Muitos
dos meus amigos são poetas. Alguns escrevem, outros não. Alguns publicam ou já
publicaram e outros nunca se atreveram. Várias publicações independentes -
mimeografadas, xerocadas ou acabamento completo – encontram-se em minha biblioteca
e gostaria de compartilhá-las, mostrando como, do fundo empoeirado de uma
página, a matéria poética volta a reluzir, sempre que tocada.
Edilane, Bruno e Rose - Serra do Cipó, circa 1996 |
O
primeiro é de Bruno Flávio Lontra Fagundes e foi extraído de publicação sem
título de 1980:
Inda resta um punhado de
sol!
Choveu ainda agora
não sentes a terra úmida
e as flores , não vês
se vestem de perfumes,
escondidas ainda,
sairão já não vês?
Pra lá é Minas!
Conheço seus campos, seu
cheiro de montanhas,
seu gosto de saudades
Rapaz,
ainda resta um punhado de
sol, resta sim.
(semear os campos, colher
as estradas, estrelas)
sair cantando as luas
a poesia dos corações
distraídos.
Pois assim e somente assim
seremos invencíveis.
Quanta
insouciance! Sobretudo quando nos
lembramos que 1980 era uma época libertária, com a ditadura militar agonizando
e os novos rumos do Brasil apenas se insinuando. O ideário dos 60 e 70 ainda
fazia escola, mas nada disso se faz sentir neste poema. O que sobressai aqui é
o vigor juvenil e a confiança na vida, embasados em uma certa “mineiridade”, a
saber, uma divagação melancólica sobre os temas da natureza e dos sentimentos
do interior.
O
segundo é Poesia de João Batista
Martins, extraído do (ótimo) livro Tempos
Vagabundos de 1998:
Tudo é matéria
Abismo ou espaço
Semente ou desejo
Porrada ou beijo.
Tudo é matéria
Terra e fogo
Lua e vento
Olhar e traição.
De tudo retiras
A matéria fina
Que te anima.
Reunião de poetas, loucos e afins no final dos anos 90 em Belo Horizonte. O bravo João Batista é o que traz a mulata no colo. |
Tratamento
universal do tema da inspiração poética, um poema réussi, bem realizado. O que mais vejo nele? Resquícios da poesia
de rua da geração mimeógrafo dos anos 70, capaz de garimpar lampejos de beleza
nas frestas do concreto da cidade moderna, a concisão dos concretistas e de
Paulo Leminski e o equilíbrio do todo, mostrando que o poeta tem consciência do
seu papel e não se desespera.
©
Abrão Brito Lacerda
Ah, Abrão, você nos presenteando mais uma vez!
ResponderExcluirObrigado. É bom ver que as coisas estão dando certo.
ExcluirAbrão, valeu. Depois te mando alguma coisa mais. Já que eu não providenciei nada, vc "catou" algumas palavrinhas perdidas aí no início dos tempos, não é? Gostei das fotos também e Joãozinho com "a mulata no colo" é demais. E vc no Borges da Costa olhando pra máquina e meditando como quem diz "vai me ajudar ou não?" é demais também. Abs. Bruno, que porventura é o Fagundes do poema.
ResponderExcluirSalut, Brunus, merci de ton commentaire. Você gostou do conto Borgeana?
ExcluirQuerido Abrão,
ResponderExcluirViajar pelos teus contos é muito saboroso...
Conhecer pedaço de sua trajetória é bastante prazeroso...
Apreciar os poemas, então...
Saudações aos teus amigos...
Obrigada!
saaalve camaradas!!! Sabem aquela do Tupi tocando o Alaúde do Mário de Andradade? é assim que me sinto nestes ambientes. de novo. Gostei desse negócio de blogar. está lindo.
ResponderExcluirobrigado pela escolha do poema. e já que puseste um Borgeana, envio-te um poema do mesmo livro feito para a outra moradia estudantil. MOFUCEANA.
Pardais
Políticos
Parasitas
e tiras
na corda
bamba
da lira.
e mais este revisitado:
CIGARRA
o que em
você
silencia
em mim
poesia.
abraço, do Joao;;
pense envie os contos do livro....